(After the Darkness — Record — 2010)
O que acontece quando uma mulher que teve tudo percebe que não tem mais nada a perder?
Grace Brookstein é a socialite mais querida dos Estados Unidos e leva uma vida de princesa. Até o dia em que o marido, gênio das finanças e administrador do fundo de hedge Quorum, sai para velekar e nunca mais volta. Enquanto lida com a tragédia, um escândalo envolvendo o Quorum irrompe: bilhões de dólares foram roubados de seus maiores investidores — trabalhadores americanos de classe média e baixa. Da noite para o dia, a vida de Grace se transforma. Todos os seus bens são confiscados e ela é acusada de fraude. Determinada a provar sua inocência, Grace Brookstein parte em uma jornada que revelará que ninguém à sua volta é digno de confiança.
Grace Brookstein veio de uma família rica; a mais nova de três irmãs, Grace se sentia confortável em se assumir no direito de ter tudo do bom e do melhor, de ser amada — começando pelo pai, cuja perda representou um trauma — por todos, do marido Lenny a uma série de anônimos. Tão ingênua que chega a ser irritantemente estúpida, o mundo Grace desaba quando o barco do marido desaparece durante uma tempestade. Depois disso, o caos: Grace é presa, condenada por fraude e pega prisão perpétua. Não apenas não tinha com quem contar — até mesmo seu advogado aceitou um suborno para deixá-la apodrecer na prisão.
Encontrando algumas poucas aliadas dentro da prisão, Grace logo descobre que passara a vida inteira rodeada de puxa-sacos, e que um deles podia ter matado seu marido. Desesperada, ela arma um plano de fuga e acaba conseguindo escapar.
Entra em cena Mitch Connors. Responsável por levar Grace de volta, ele precisa seguir os prováveis passos dela, com a ajuda de um detetive particular que tinha informações sobre o paradeiro dela. Mesmo querendo odiá-la, Mitch sente que alguma coisa está errada e pode ser que decida se aliar a ela na busca pela verdade e na tentativa de provar sua inocência. Mas não há mais nada de inocente em Grace — além de uma cega confiança em Lenny. Ela estava sozinha, deprimida e amarga, e disposta a procurar seus sabotadores e exigir vingança, mesmo que tivesse que se tornar uma assassina.
Minha opinião:
Depois da Escuridão começa em ritmo lento. Tilly Bagshawe — que escreve como Sidney Sheldon desde 2007 — passa um longo tempo situando os personagens antes de alavancar a trama. Aliás, passa tempo demais. Já na primeira página é óbvio que todos ao redor de Grace e Lenny Brookstein são um bando de puxa-sacos interesseiros e subservientes. Todos sabiam disso. Menos Grace.
No começo, Grace é uma criatura inútil, fútil — sua única preocupação era organizar festas e bailes de caridade e gastar —, iludida, tola e infantil. Ela se deixa levar como um cachorrinho na coleira, sem nunca parar para pensar que precisa tomar as rédeas da própria vida. Até o casamento com Lenny, um homem muito mais velho, foi uma tentativa de resgatar a infância, utilizando-o como figura paterna para substituir o próprio pai, morto quando ela era criança. Porém, um ano depois, Grace estava diferente. Não era mais tão crédula ou fraca e queria se vingar. Ela sofre uma mudança radical — mata seu estuprador, toma uma substância abortiva, se vinga de um falso amigo que só queria lucrar para cima dela — e a cena me trouxe uma imagem hilária à cabeça! —, mata, intimida, assusta. Nada a ver com aquela criança boba do começo.
Mas, sinceramente, eu não estou nem aí para Grace. Foram necessárias mais de 150 páginas para ela crescer. O que eu quero mesmo é que Tilly Bagshawe encontre uma maneira satisfatória de trazer Mitch Connors em outro livro. Tal como um herói de romances, Mitch é generoso, gentil, numa incansável busca pela verdade — ainda que seja mais por estar apaixonado por Grace — com a vantagem de que reconhece que estava errado no início.
Então, Depois da Escuridão é um bom livro. Talvez um espinho para quem foi diretamente atingido pela crise financeira, ou para quem não goste de dramas, mas certamente vai satisfazer os pacientes, mártires e amantes de reviravoltas.
Ainda não sei se vou me arriscar a ler outro livro de Tilly Bagshawe — vai que todas as heroínas dela beirem a demência? —, mas sei que vou tentar se algum dia ouvir o nome Mitch Connors de novo.