domingo, 16 de maio de 2010

O Emprego dos Meus Pesadelos — Emanoel Achiles

Postado por Lidy às 5/16/2010 12:11:00 AM
Independência, chance de crescer profissionalmente, adquirir experiências e poder ajudar a família. No começo, parece um sonho, mas depois… Freddy Krueger sentiria inveja.

“O Emprego dos Meus Pesadelos” — Emanoel Achiles
Publicado pelo Clube de Autores em 2010. 287 páginas.


Todo mundo deseja ter um bom emprego. Não só um emprego que pague bem, mas que traga satisfação, reconhecimento e segurança financeira. Que proporcione, ao menos, o mínimo de dignidade e conforto para o empregado e, quem sabe, para a sua família. Seria este o “emprego dos sonhos”, que todos querem, todos perseguem, mas poucos são os que o possuem.

Neste seu primeiro livro, Emanoel Achiles conta sua própria experiência como empregado de um escritório imobiliário. O que parecia ser, à primeira vista, um trabalho simples, acabou se transformando em uma grande dor de cabeça e um dos piores momentos de sua vida. Morando de aluguel em uma cidade grande, sobrevivendo com salário inferior ao mínimo, perseguido pelo chefe, sem experiência anterior no ramo e sem oferecerem treinamento para o cargo que ocupava, o autor relata com sinceridade as diversas situações vividas por ele.

Alguns destes momentos são hilários, como o dia em que precisou atender um homem que sofria de problemas mentais — e que estava completamente nu —, às vezes dramáticas e solidárias, como quando, por exemplo, decidiu ajudar uma senhora que seria despejada de casa pelo próprio filho.

O trabalho diário exaustivo e frustrações — 9 horas por dia debaixo de sol escaldante, 10 pessoas por hora —, os malabarismos para permanecer no emprego, o contato nem sempre amigável com clientes e as confusões em que acabou se metendo sem querer neste “emprego dos pesadelos” vão divertir, entreter e, acima de tudo, emocionar.


Quem nunca teve uma besta quadrada como chefe que atire a primeira pedra.

Felizmente, todos já passaram — se não passaram… Bem, não se preocupem, um dia chegam lá — pelas mãos de um patrão idiota. Por relatos que leio/vejo, a situação tem o dom de piorar nos trabalhos que envolvem contato direto com pessoas. Existem vários tipos de personalidades, e as mais ‘aborrecentes’ são as que se negam a enxergar a realidade, além de serem rudes.

Por isso mesmo, um pobre trabalhador brasileiro decidiu desabafar no Orkut suas experiências traumáticas com os clientes de uma imobiliária na qual trabalhara. Os amigos o aconselharam a escrever um livro. Enredo ele já tinha. Conteúdo, também. Só faltava uma parte relativamente importante: a editora.

Li no Orkut pessoas reclamando sobre a falta de respeito que algumas grandes editoras têm em relação aos autores brasileiros anônimos — já vi gente falando que uma editora recusou avaliar os primeiros capítulos de um livro “porque o povo brasileiro não tem domínio da língua escrita”. WTF?

Sendo assim, foi necessário passar por uma busca estressante por uma editora independente. Eventualmente, a salvadora da pátria foi descoberta, e com o passar do tempo — dividido entre revisões, edições, formatações e toda aquela porcaria gráfica relacionada à publicação —, a criança nasceu e o resultado é esse:


Sinceramente, enquanto passava de forma um tanto ausente pelo processo de produção, ri muito das lidas esporádicas que eu dava na estória do autor. Não posso dizer que todas elas tenham sido colocadas no livro, não apenas por uma questão de espaço, mas também pela privacidade da pessoa descrita que sequer o benefício de um nome fictício poderia proporcionar.

As partes que mais gosto são os tapas na cara: impossível que aquele cliente chato, que passa o dia falando abobrinhas não perceba o quanto é desagradável; e só porque desgraçada pouca é bobagem, o infeliz além de ter uma ampla capacidade de irritar se destaca também pelos seus modos… Incomuns. O remédio para não socar o infeliz em vez de dar aquele sorriso de mártir é observar e destilar o veneno em pensamentos internos, como esses:

Ela tinha por volta de setenta anos e parecia um personagem saído de um conto de terror ou filme trash. Eu achava que ela tinha semelhança com uma velha bruxa nariguda personagem do desenho Pica-Pau, em um episódio da vassoura mágica reprisado milhares de vezes na TV aberta. Dona Lindalva ou tinha saído de uma urna funerária ou atravessado o mundo dos mortos e caído de para-quedas no nosso mundo. Tinha os cabelos curtos, escovados, pintados. Era baixinha, andava mancando, curvada, usava óculos fundo de garrafa, falava manso. O nariz era enorme, deformado. Mas que ninguém se enganasse com ela. Dona Lindalva escondia segredos de corar qualquer ser humano.

Ela dizia para os quatro cantos do mundo que era eternamente viúva. Seu marido havia falecido centenas de anos antes e, desde o momento da morte, aquele dinossauro usava um vestido preto, em homenagem ao defunto. Não eram vários vestidos pretos. Era O MESMO vestido, todos os dias, todas as horas, dia e noite, sábados, domingos ou feriados, não importava a ocasião. O tal vestido dela deixava os seios aparecerem, porque estava desgastado na parte de cima, mas ela não se importava. Era uma visão infernal. Um peito era maior que o outro.

Página 69.
* Reproduzido com permissão do autor.

De fato, eu que planejo só Deus sabe por que trabalhar com pessoas, e que nunca trabalhei formalmente de carteira assinada e tudo, me pego imaginando como seria minha vida se tivesse que passar por tudo isso. De repente, a idéia de ter que levar tanto desaforo para casa, a preço de um salário irrisório, porém necessário para viver, parece ridiculamente real. Engana-se quem pensa que realidade faz sentido — se alguém vê algum senso em humilhar pessoas por uma questão hierárquica me diga onde está a prova de que isso é necessário.

Cada caso é um caso, entretanto, percebe-se por leves nuances diárias que todos estão passiveis de passar por semelhante sofrimento. Uma espécie de compensação por outros pecados? Quem sabe. Não faço a menor idéia e tampouco tenho alguma teoria genial a respeito do assunto. No final das contas, duas constatações: uma leitura que provoca empatia; num mundo em que as pessoas se afastam cada vez uma das outras, por diversos motivos, levando ao stress, à violência, alguém decidiu não se calar e extravasou.

Para nossa absoluta diversão.

Para comprar o livro, clique aqui.

8 comentários:

Primavera on 16 de maio de 2010 às 01:08 disse...

Tive o privilégio de conhecer o Achiles em um site de relacionamento para quem gosta de filmes (Filmow) e lá estava ele divulgando seu livro, sim divulgando um livro em um site para filmes, rs.

Então fiz as honras de apresentá-lo o Skoob, ensina-lo a usar e sim fui eu quem cadastrei seu livro lá (meu primeiro cadastro no site, diga-se de passagem...). Sabia que lá faria sucesso com sua obra... e não que acertei na mosca!

Sinto-me orgulhosa em poder ter participado, com um gesto mínimo, na divulgação de seu trabalho. Os autores brasileiros são muito desvalorizados e existem muitos bons vivendo no anonimato. Quem perde somos nós leitores, passamos muito tempo em ócio, sem nem se quer conhecer o trabalho deles...

Ainda não tive o satisfatório prazer em degustar desta leitura. Se antes já estava interessada, imagina agora depois de ler tantos modestos e singelos comentários... Já pude perceber que é mais do que eu esperava. Contando os dias para ter um exemplar em minhas mãos.

Parabéns pelo blog e pela bela critica, amei poder rever o vídeo do episódio da vassoura, dei boas gargalhadas... hahahaha

Fico aqui imaginando “a bruxa” com os peitos murchos e caídos a se exibir... ecati, é de se embrulhar o estomago! kkkkkk

Mais uma vez meus parabéns Achiles pela ousadia e perseverança em publicar sua obra.
Agora por favor, faça seu Twitter... hahahaha

Aquiles on 16 de maio de 2010 às 01:21 disse...

O blog está ótimo, cada vez melhor! Agradeço a oportunidade de ter a resenha do meu livro aqui! Muito obrigado pelos elogios, o texto ficou hilário, você captou bem o espirito da coisa...! Obrigado por tudo! rsrsrss

Aquiles on 16 de maio de 2010 às 01:26 disse...

E Primavera, você tá parecendo uma fã tarada por mim que disse que ia descobrir onde moro, acampar na porta de minha casa e me seguir onde quer que eu vá rsrs! Estou começando a ficar com medo disso rsrs

Rosimayre on 16 de maio de 2010 às 14:05 disse...

Parabéns pela resenha!! Adorei! Deixa qualquer um com vontade de ler o livro!! Quanto ao autor, Aquiles é um obstinado, uma pessoa que nasceu para vencer! Tive o prazer de conhecê-lo no Skoob e, desde então, não tenho feito outra coisa senão torcer para que ele tenha o reconhecimento merecido.
Eu tb não vejo a hora de ter esse livro em minhas mãos!

Abraço!

Aquiles on 16 de maio de 2010 às 18:38 disse...

Muito obrigado, Mayre, pelos elogios! O apoio de todos vocês é fundamental para mim!!!

Lariane on 17 de maio de 2010 às 15:33 disse...

lay novo *-*

Unknown on 19 de maio de 2010 às 16:03 disse...

Uma excelente resenha.. bem detalhada e convence o leitor a se aventurar nesta histórias, que pelo jeito sabe brincar na medida com a realidade de tantos e a forma como se enfrentar este pesadelo!
Fiquei bem interessada no livro... vou atrás de mais informações!
;D

Akimi San on 26 de maio de 2010 às 16:06 disse...

Nossa!Estou anciosa para ler este livro!!! O Aquiles sempre me pareceu ser um cara super inteligente. Concertesa este livro será um grande sucesso!!!!! Abraço Aquiles!!!

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